Ciências Sociais, violência epistêmica e o problema da "invenção" do outro.


Santiago Castro Gómez é um filósofo colombiano, formado na Universidade Santo Tomás, crítico latino americanista faz parte dos autores do grupo Modernidade/Colonialidade, grupo de estudiosos que têm como principal pauta a violência epistêmica, a colonialidade e a modernidade.
Em seu texto Ciências Sociais, violência epistêmica e o problema da “invenção do outro” Santiago Castro Gómez ao falar de violência epistêmica se utiliza muito do pensamento de Michel Foucault de poder disciplinar, na colonialidade do poder isso se amplia em uma estrutura de domínio epistemológico, onde o controle e a ocidentalização do“saber” se torna um dispositivo biopolítico do governo.
Um objetivo geral do autor, que se pode identificar através da leitura do texto citado acima, é mostrar a relação entre modernidade, colonialidade e violência epistêmica. Nas palavras de Santiago a Modernidade é uma maquina geradora de alteridades e que em nome da razão e do humanismo exclui do seu imaginário a hibridez, a ambiguidade a multiplicidade e etc. O autor disserta sobre o projeto da modernidade, que é a tentativa de submeter toda a vida a razão através de uma instância central que seria o Estado que se utiliza da biopolítica do poder para regular os processos vitais da população com o objetivo de criar perfis úteis ao sistema de produção capitalista.
Na modernidade o Estado é entendido como a instância com a capacidade de sintetizar os desejos da população, ou seja, transformar interesses individuais em metas coletivas, sem as ciências sociais o Estado Moderno não teria essa capacidade na visão do autor, pois as taxonomias criadas pelas ciências sociais não se limitava somente a analise de realidade, porém seus conceitos interferiam na realidade social assim também pensa Giddens, Santiago afirma que as ciências sociais ensinam as leis que governam a economia, a sociedade e a política e o Estado define suas políticas governamentais a partir disso. Santiago Castro—Gómez cita González Stephan que identificou através dos estudos de constituições, manuais de urbanidade e em livros gramaticais a invenção da cidadania. A criação de um comportamento padrão, do cidadão moderno, do civilizado exigia a criação também do que fosse marginal a tudo isso, como exemplo o civilizado exigiu o selvagem, o católico exigiu o pagão, moderno exigiu tradicional, solidariedade orgânica exigiu solidariedade mecânica, mágico exigiu o científico o europeu exigiu o não-europeu e outras taxonomias que foram fundamentais para a invenção do outro, ou seja, esse dispositivo taxonômico cria identidades e por consequência alteridades.
De acordo com o autor as ciências sociais surgiram em um contexto ideológico moderno e colonial, dessa forma nunca realizou uma ruptura epistemológica. Santiago Castro-Gómez ao explanar sobre esse contexto moderno colonial se utiliza do pensamento de Immanuel Wallerstein ao citar o sistema-mundo que é o conceito desenvolvido pelo autor que divide o mundo em centro, periferia e semi-periferia, trata-se da divisão internacional do trabalho onde o crescimento econômico de um país está diretamente baseado no empobrecimento de outro, esse conceito é capaz de nos fazer repensar as taxonomias de desenvolvido e subdesenvolvido. Para Santiago Castro-Gómez o processo de colonização além de tudo foi um laboratório do racismo como instrumento de dominação como também umas das primeiras acumulações primitivas do Ocidente. Já se utilizando do conceito de Walter de Mignolo, Santiago também aborda o sistema-mundo moderno/colonial que expandia o conceito de Immanuel Wallerstein, pois além do domínio econômico, este conceito trata do domínio epistemológico, identitário, da cultura e do universo simbólico dos colonizados.
Para Santiago Castro-Gómez o projeto da modernidade está ameaçado principalmente pelo surgimento da globalização, pois através dela há uma descentralização e a instância responsável pelo projeto da modernidade, O Estado Moderno, perde parte do seu controle.
Em sua conclusão no texto- Ciências Sociais, violência epistêmica e o problema da “invenção” do outro, o autor disserta sobre uma reformulação das ciências sociais onde diz que o desafio das ciências sociais consiste em aprender a nomear a totalidade sem ser essensialista, formular teorias críticas sociológicas que explanem sobre os mecanismos de produção das diferenças na globalização e no caso da América Latina o que o autor sugere a descolonização das ciências sociais e da filosofia através de uma desobediência que é a ruptura epistêmica e política a chamada opção descolonial.





Comentários

Postagens mais visitadas